Meio Ambiente
Práticas agrícolas sustentáveis mantêm a porosidade do solo no Cerrado
Arquivo
Pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Embrapa conduziram um estudo para avaliar a porosidade do solo em diferentes sistemas de manejo agrícola no Bioma Cerrado. O levantamento mostrou que práticas agrícolas sustentáveis podem preservar características do solo, como a porosidade e a agregação, em níveis comparáveis ao de áreas de mata nativa. Segundo o estudo, o manejo adequado do solo favorece a deposição de matéria orgânica, essencial para a saúde do ecossistema e o desenvolvimento de culturas e pastagens.
Érika Pinheiro, pesquisadora da UFRRJ, detalha que a densidade do solo é um fator crucial que influencia diretamente a porosidade, a capacidade de infiltração de água, o crescimento radicular e a emergência das plantas. Segundo ela, esses aspectos são determinantes para a produtividade agrícola, especialmente em solos do Cerrado, que têm características únicas e requerem cuidados específicos. “O estudo avaliou a porosidade do solo sob diferentes sistemas de manejo agrícola em comparação com uma área de mata nativa no bioma Cerrado, no município de João Pinheiro, MG”, explicou Pinheiro.
Para a realização do estudo, os pesquisadores coletaram amostras de solo em diferentes áreas de cultivo e manejo no Cerrado. As amostras foram utilizadas para determinar a densidade do solo e a qualidade da porosidade em três tipos de manejo: plantio convencional de milho, pastagem produtiva com capim mombaça, e uma área de Cerrado denso preservado, utilizado como referência de comparação e como estratégia para o protocolo de MRV (monitoramento, relato e verificação) para o Projeto PRS Cerrados, esclarece Celso Manzatto, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.
A análise revelou que, no sistema de plantio convencional de milho, a densidade e porosidade do solo eram semelhantes às observadas nas áreas de mata nativa e nas pastagens. De acordo com o pesquisador Celso Manzatto, da Embrapa Meio Ambiente, essa similaridade se deve ao histórico de uso da área com cultivo de Brachiaria, o que ajudou a enriquecer o solo com matéria orgânica via sistema radicular.
Já Letícia Pimenta, também pesquisadora da UFRRJ, informa que a área destinada ao plantio de milho teve um período de cultivo de abóbora sob plantio direto no ano anterior, o que contribuiu para reduzir a compactação do solo, pois o sistema não envolveu o uso de maquinário pesado para revolvimento. Esse intervalo entre as culturas e a ausência de operações mecanizadas ajudaram a manter a estrutura do solo mais favorável à infiltração de água e ao crescimento das raízes.
Nas áreas de pastagem produtiva, a conservação da porosidade do solo foi explicada por uma série de práticas de manejo voltadas para o controle do impacto da atividade pecuária. Segundo David Campos, pesquisador da Embrapa Solos, o uso controlado da taxa de lotação animal e a rotação entre os piquetes permitem que o capim mombaça tenha períodos de recuperação, o que contribui para a preservação da estrutura do solo e, consequentemente, sua porosidade.
Essa prática, segundo os especialistas, diminui o risco de compactação causado pelo pisoteio excessivo do gado, além de promover o desenvolvimento de um sistema radicular mais robusto, capaz de contribuir para a manutenção e aumento da matéria orgânica no solo.
Importância do manejo adequado para o Bioma Cerrado
A preservação da estrutura do solo no Cerrado é fundamental para a sustentabilidade do bioma e para a manutenção da produtividade agrícola a longo prazo. O Cerrado, uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta, é também um dos ecossistemas mais suscetíveis a impactos ambientais. O manejo inadequado do solo pode levar à sua compactação, redução da capacidade de infiltração de água e diminuição do suporte às raízes das plantas.
A pesquisa conduzida pela equipe da UFRRJ e da Embrapa reforça a importância das práticas de manejo que mantêm o solo em condições semelhantes às das áreas nativas, mesmo em cenários de produção agrícola e pecuária. Essa abordagem, que inclui o uso de pastagens bem manejadas e práticas de plantio direto, revela-se fundamental para a conservação do solo e da vegetação nativa, ajudando a garantir a resiliência dos solos do Cerrado e a segurança alimentar das próximas gerações. A pastagem produtiva com o capim Massai também foi avaliada no estudo sobre a porosidade.
Os resultados deste estudo oferecem subsídios para que produtores e técnicos do setor agrícola adotem práticas sustentáveis no manejo do solo. A pesquisa confirma que é possível conciliar a produção com a conservação ambiental, especialmente em regiões ecologicamente sensíveis, como o Cerrado.
Esse trabalho foi apresentado na XXI Reunião Brasileira de Manejo e Conservação do Solo e da Água e VIII Simpósio Mineiro de Ciência do Solo, 2024 e os autores são Letícia Pimenta, Vanessa Pereira, Amanda Santos, Maria Eduarda Xistuli, Érika Pinheiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, David de Campos, da Embrapa Solos e Celso Manzatto, da Embrapa Meio Ambiente.
Cristina Tordin (MTB 28499/SP)
Embrapa Meio Ambiente
Fonte: Embrapa
Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]
Meio Ambiente
Projetos estadual e federal podem corrigir injustiças ambientais e impulsionar o agronegócio
Divulgação
Duas propostas legislativas — uma estadual e outra federal — prometem corrigir falhas históricas na classificação de biomas em Mato Grosso, aliviando os custos para produtores rurais e ampliando a competitividade do agronegócio no estado. A primeira, em tramitação na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), reclassifica áreas dos biomas amazônico e cerrado, enquanto a segunda, na Câmara dos Deputados, visa retirar o estado da Amazônia Legal.
Atualmente, muitos produtores rurais em Mato Grosso precisam preservar até 80% de suas propriedades por estarem localizadas em áreas classificadas como floresta amazônica, mesmo em regiões de cerrado ou transição. Para ajustar essas áreas à realidade, os proprietários são obrigados a gastar altos valores com laudos técnicos para comprovar que suas terras pertencem ao bioma cerrado, onde a reserva legal exigida é de 35%.
A proposta estadual, aprovada em primeira votação, busca corrigir essas distorções ao redefinir os limites entre biomas. Se aprovada, permitirá que áreas erroneamente classificadas como floresta amazônica passem a ser reconhecidas como cerrado, alinhando a legislação ambiental à realidade no campo.
O deputado Carlos Avallone, presidente da Comissão de Meio Ambiente e autor da proposta, defende que a reclassificação é essencial para reduzir custos e ampliar a área disponível para produção agrícola. “Estamos corrigindo equívocos históricos que penalizam produtores que já preservam boa parte de suas terras. Essa mudança é técnica e necessária”, afirmou.
Produtores argumentam que, em muitas regiões de cerrado, onde é exigida a preservação de 80%, a vegetação é tratada como floresta de forma equivocada. Segundo lideranças do setor, isso encarece a produção e reduz a competitividade do Brasil no mercado global, especialmente diante das exigências internacionais.
Especialistas alertam que a reclassificação poderia abrir caminho para o desmatamento de até 10 milhões de hectares. Porém, produtores destacam que não se trata de “desmatamento indiscriminado”, mas de uma adequação técnica que garante a manutenção da preservação obrigatória de 35% em áreas de cerrado, conforme o Código Florestal.
Além disso, ambientalistas temem impactos na credibilidade do Brasil no mercado internacional, mas deputados como Juarez Costa, autor da proposta federal, ressaltam que o agronegócio brasileiro já adota padrões elevados de sustentabilidade.
No âmbito federal, o projeto de retirar Mato Grosso da Amazônia Legal promete aliviar ainda mais os custos para produtores, que seriam dispensados de preservar 80% de suas propriedades, como ocorre atualmente. Apesar do parecer contrário do deputado Coronel Chrisóstomo na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o texto ainda será debatido em outras instâncias legislativas.
A segunda votação da proposta estadual será crucial para determinar o futuro da legislação ambiental em Mato Grosso. Se aprovada, representará um avanço na segurança jurídica dos produtores e um estímulo ao agronegócio, pilar econômico do estado. O debate revela a necessidade de equilibrar conservação ambiental e crescimento econômico em um dos principais estados produtores do Brasil.
O agronegócio mato-grossense, responsável por alimentar milhões de pessoas no Brasil e no mundo, reforça que ajustes como esses são indispensáveis para garantir sua sustentabilidade econômica e ambiental.
Fonte: Pensar Agro
Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]
Meio Ambiente
Florestas restauradas elevam produtividade em até 10 sacas de soja por hectare
Foto: Mayke Toscano/Secom-MT
O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) apresentou nesta quinta-feira (21), durante a COP29, em Baku, um estudo inédito que avalia os impactos da restauração florestal para a agricultura e o meio ambiente. De acordo com a pesquisa, a recuperação de 2% a 10% da paisagem local ajuda a prevenir quebras de safra e eleva a produtividade. No caso da soja, o aumento pode chegar a 10 sacas por hectare em áreas restauradas.
A pesquisa faz parte do projeto Galo – sigla em inglês para Avaliação Global a partir de Observações Locais -, que investiga a relação entre a agricultura e a preservação da vegetação natural nos biomas Amazônia e Cerrado.
O estudo analisou dados desde 1985 e constatou que, mesmo em áreas recompostas com floresta secundária, não ocorre a total recuperação de serviços como evapotranspiração – o que significa dizer ser incapaz de manter o ciclo da água.
Segundo Ludmila Rattis, pesquisadora do Ipam e do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, a regulação climática, especialmente da temperatura, também não é totalmente restabelecida.
No entanto, os pesquisadores destacaram que florestas restauradas têm papel relevante na melhoria da eficiência agrícola, como no caso da soja, demonstrado pelo estudo.
“Mais floresta é mais produtividade. No caso da soja, atinge-se em área restaurada um aumento de aproximadamente 10 sacas, ou 600 quilos, por hectare”, afima Rattis.
Apesar dos benefícios, ela alerta que a restauração não substitui a preservação de florestas primárias. “Primordialmente, precisamos proteger as florestas primárias, que são insubstituíveis”, afirmou.
O estudo foi assinado pelos pesquisadores André Andrade, Bianca Rebelato e Elisângela Rocha, além de Ludmila Rattis.
Luis Roberto Toledo
Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]
Meio Ambiente
Altas Doses de Calcário Impulsionam Produtividade da Soja no Matopiba
Assesora
Uma pesquisa conduzida pela Embrapa Meio-Norte (PI) aponta que a utilização de altas doses de calcário no cultivo da soja de primeira safra na região do Matopiba – que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – pode aumentar a produtividade em até 30% em comparação às doses recomendadas pelos documentos oficiais. Apesar de causar redução em alguns nutrientes do solo, o impacto é contornável por meio de adubação, assegurando o equilíbrio da fertilidade.
Demanda dos produtores impulsionou a pesquisa
O estudo, iniciado em 2019, surgiu a partir de uma solicitação da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Piauí (Aprosoja-Piauí), que observou o uso de doses mais elevadas de calcário em algumas propriedades. O pesquisador Henrique Antunes, da Embrapa, explica que muitos produtores recorrem à prática devido à alta rentabilidade da soja. “Há quem inicie com doses altas de calcário para preparar áreas e já plante soja, que proporciona retorno imediato. Em outros casos, os produtores começam com forrageiras e entram com a soja no segundo ano”, relata.
Porém, a falta de respaldo técnico para esse manejo dificulta o acesso ao crédito bancário, o que motivou a realização de estudos para embasar novas práticas de fertilização. Antunes destaca que a maioria das diretrizes atuais é baseada em pesquisas das décadas de 1980 e 1990, enquanto os sistemas agrícolas atuais utilizam cultivares mais exigentes e manejo intensivo do solo. “Isso reforça a necessidade de revisar os documentos técnicos, especialmente em regiões de fronteira agrícola como o Matopiba”, afirma.
Resultados das pesquisas
O primeiro experimento, realizado em parceria com a Universidade Federal do Piauí (UFPI), avaliou o impacto de diferentes doses de calcário e gesso sobre a fertilidade do solo e a produtividade da soja no Cerrado piauiense. Foram testadas doses entre zero e 20 toneladas por hectare, utilizando a cultivar BRS 9180. Os resultados demonstraram que doses de 10 a 15 toneladas de calcário por hectare aumentam significativamente a produtividade, neutralizando a toxicidade do alumínio no solo. No entanto, doses superiores a 15 toneladas reduziram as concentrações de fósforo e potássio, prejudicando a produtividade.
O engenheiro-agrônomo Doze Batista de Oliveira, que desenvolveu sua tese de doutorado com base nos dados do projeto, detalha que uma aplicação de 10 toneladas de calcário por hectare elevou a produtividade da soja em 18% e 12% nas safras de 2019/2020 e 2020/2021, respectivamente. “A calagem melhorou a fertilidade do solo, favorecendo o crescimento das plantas. O uso combinado de gesso acelerou a redução da acidez em profundidade, criando um ambiente mais favorável para o desenvolvimento das raízes”, explica.
Impacto e desafios na adoção da prática
O estudo também apontou que, embora doses elevadas de calcário sejam eficazes, é necessário complementar com adubação para evitar deficiências nutricionais no solo. Produtores como Diógenes Brandalize, que cultiva soja e outras culturas em 3 mil hectares no Piauí, já adotaram a prática, registrando um aumento de 20% na produtividade.
Por outro lado, Luís Fernando Devicari, produtor no Maranhão, mantém o manejo tradicional enquanto aguarda os resultados definitivos. Ele ressalta a importância da análise do solo para orientar o uso do calcário. “Realizamos análises anuais e corrigimos as áreas conforme necessário”, afirma.
O consultor agrônomo Christofer Garanhani, de Paragominas (PA), reforça que os estudos têm ajudado a determinar as doses ideais de calcário para diferentes áreas. Ele destaca, porém, que os custos elevados e as dificuldades de crédito ainda são barreiras para uma adoção mais ampla.
Apesar desses desafios, a prática de aplicação de calcário em altas doses está ganhando adeptos na região, com a expectativa de que os resultados positivos impulsionem uma migração gradual para esse manejo.
Fonte: Portal do Agronegócio
Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]
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