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Meio Ambiente

Impacto das enchentes no RS: a longa jornada de recuperação do solo

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Foto: Rafael Ramon

As enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, ocorridas entre o final de abril e início de maio, foram classificadas pelo governo estadual como “a maior catástrofe climática” da história do estado. A precipitação excessiva, que variou de 300 a 700 mm em diferentes regiões, afetou mais de 60% do território estadual, resultando em danos significativos à infraestrutura e ao setor agrícola. Em meio a essa crise, a erosão do solo emergiu como um problema crítico.

Jean Minella, professor do Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em entrevista ao Portal Agrolink, explicou que após um processo erosivo, o solo fica exposto e mais suscetível a novos danos. A falta de cobertura vegetal e a remoção da matéria orgânica tornam o solo propenso à formação de crostas superficiais e erosão concentrada, amplificando os impactos de futuras chuvas. A presença de micro relevos criados pela erosão facilita o escoamento de água, aumentando o potencial de desastres subsequentes.

Além disso, áreas que receberam sedimentos enfrentam um desafio adicional. Depósitos de areia sobre a camada fértil do solo dificultam o crescimento de plantas, pois esses sedimentos são pobres em matéria orgânica e inadequados para a retenção de água. Minella enfatiza a importância de promover a atividade biológica para reconstruir o solo a longo prazo, um processo que não pode ser acelerado apenas com a adição de fertilizantes. A recuperação depende de práticas de manejo que incrementem a matéria orgânica ativa, favorecendo o desenvolvimento de um novo perfil de solo.

Para mitigar os impactos futuros, Minella defende a necessidade de políticas públicas eficazes e práticas agrícolas sustentáveis. Ele destaca a importância de conter e atenuar o escoamento superficial em pequenas bacias hidrográficas e valorizar os agricultores que adotam práticas conservacionistas. A implementação de técnicas como terraceamento e rotação de culturas são essenciais para proteger áreas vulneráveis. Essas medidas não só beneficiam a produtividade agrícola, mas também ajudam a sociedade a enfrentar períodos de estiagem e chuvas excessivas, promovendo uma agricultura mais resiliente e sustentável.

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O professor ainda mencionou o Projeto de Lei 294-2005 que nunca foi colocado em pratica e a aprovação da lei atual (retrocesso) que permite a construção de barragens nas áreas de preservação permanente (APPs).

Leia a entrevista na íntegra

Portal Agrolink: O quanto a erosão física causada nesses solos pode impactar próximos eventos de chuvas extremas?

Jean Minella:  Após um processo erosivo, o solo geralmente fica exposto e mais suscetível aos agentes erosivos, seja pela queda de gotas de chuva ou pelo escoamento superficial durante eventos de chuva subsequentes. Existem várias razões para isso. A primeira é a falta de cobertura vegetal ou de resíduos vegetais que foram removidos pela última enxurrada. Isso facilita a formação de uma crosta superficial, reduzindo a infiltração de água e amplificando o processo erosivo.

Além disso, a remoção da camada superior do solo também elimina a matéria orgânica, que é essencial para a estabilidade dos agregados do solo. Sem essa matéria orgânica, o solo se torna mais suscetível à desagregação. Assim, o impacto das gotas de chuva e a desagregação causada pelo escoamento superficial se tornam mais intensos devido à menor estabilidade dos agregados do solo.

Outra questão importante é a formação de sulcos, canais e ravinas durante eventos de chuva de alta intensidade. Essas formações facilitam o fluxo preferencial de água, aumentando o potencial de escoamento concentrado. Portanto, o ambiente que resta após um grande evento de chuva torna o solo ainda mais vulnerável aos próximos eventos, seja pela formação de crostas superficiais, pela remoção da matéria orgânica ou pela criação de micro relevo que favorece a erosão concentrada.

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Portal Agrolink: Como as áreas que receberam sedimentos foram impactadas? O que é preciso fazer nesses casos?

Jean Minella:  Essas áreas que receberam sedimentos foram impactadas de maneiras diferentes. Em alguns casos, houve o soterramento da camada superficial do solo, conhecida como horizonte A. Esse horizonte é rico em matéria orgânica, atividade biológica, maior fertilidade e microporosidade, características essenciais para a produtividade do solo.

Os sedimentos depositados sobre essa camada soterrada são, em sua maioria, enriquecidos com areia, que é quimicamente inerte e possui baixo conteúdo de matéria orgânica. Esses depósitos não têm uma estrutura física que permita o crescimento e desenvolvimento das plantas, funcionando mais como um depósito do que como um solo fértil. Mesmo com a adição de fertilizantes, esses depósitos não apresentarão propriedades que favoreçam o armazenamento de água nem a atividade biológica, representando um grande desafio.

Nesse momento, é fundamental potencializar e favorecer a atividade biológica nesses depósitos para que, com o tempo, um novo perfil de solo se desenvolva. Os agricultores precisam entender que somente a atividade biológica – incluindo raízes, bactérias, fungos, algas, protozoários, minhocas e outros invertebrados do solo – pode promover a construção de um novo solo sobre esses depósitos. Este é um processo de longo prazo e não é simples.

A recuperação desses depósitos depende fundamentalmente da atividade biológica e de práticas de manejo que favoreçam a entrada e o incremento de matéria orgânica, especialmente a matéria orgânica ativa. Fertilizantes ajudam, mas a fertilidade do solo só será restaurada após a consolidação mínima promovida pela atividade biológica.

Portal Agrolink: E as áreas em que a camada fértil do solo foi perdida?

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Jean Minella:  A fertilidade do solo é um conceito amplo, que envolve a capacidade do solo de fornecer elementos essenciais às plantas. Isso inclui tanto a quantidade de nutrientes disponíveis quanto as características físicas do solo, como a capacidade de armazenar água e liberá-la gradualmente, além da atividade biológica. Quando essas propriedades são removidas ou comprometidas, a fertilidade do solo nessas áreas fica severamente prejudicada.

Mesmo com a adição de fertilizantes, sem as propriedades físicas e biológicas adequadas, não haverá a disponibilização química desses nutrientes ao longo do tempo. Portanto, é fundamental que a recuperação dessas áreas considere esses aspectos essenciais para acelerar a recuperação do solo.

Portal Agrolink: Do poder público, como você acredita que devem pensar em ações para futuras perdas nesses eventos climáticos?

Jean Minella:  A questão é mais antropológica do que técnica. O poder público financia pesquisas, o que é fundamental para avançarmos no conhecimento. No entanto, ele não está implementando políticas públicas eficazes para a proteção dos recursos naturais, como o Programa de Conservação do Solo.

É essencial que sejam instituídas políticas públicas voltadas para adoção de práticas de conservação do solo e da água, beneficiando toda a sociedade. Tanto o poder público quanto a iniciativa privada têm um papel fundamental em adotar e estimular essas práticas conservacionistas.

A erosão tem um impacto significativo fora do local onde ocorre. Por exemplo, durante um processo erosivo, há o transporte de material sólido para os canais de drenagem, o que pode causar entupimento nas redes de drenagem urbanas e assoreamento dos canais rurais. Portanto, é crucial que o poder público e a iniciativa privada assumam a responsabilidade de implementar práticas conservacionistas para mitigar esses impactos.

Portal Agrolink: Em alguns locais foram perdidos até 20 centímetros de solo. Como essa perda em um único evento climático impacta a longo prazo a produtividade do RS? Quais são as soluções de longo prazo para prevenir tais perdas no futuro?

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Jean Minella: É muito importante considerar que eventos extremos como esse têm um impacto devastador. O que observamos, por exemplo, é que agricultores em várzeas e planícies fluviais foram severamente afetados devido à deposição de grandes quantidades de areia nesses solos. As soluções a longo prazo dependem essencialmente da nossa capacidade de conter e atenuar o escoamento superficial, especialmente em microescala, em pequenas bacias hidrográficas, onde temos maior eficiência, efetividade, menor custo e maior controle sobre essas intervenções.

Precisamos trabalhar principalmente em pequena escala para evitar grandes catástrofes, integrando o campo com a cidade. É essencial valorizar o agricultor que adota práticas que permitem a mitigação dos impactos extremos. Essas práticas beneficiam a sociedade tanto durante períodos de seca quanto de chuvas excessivas. Portanto, as políticas públicas devem avançar no reconhecimento dos benefícios ambientais proporcionados pelas práticas de conservação do solo, reconhecendo que elas trazem vantagens para toda a sociedade.

Portal Agrolink: Diante da previsão de uma década para a recuperação, quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos agricultores na implementação de práticas agrícolas sustentáveis?

Jean Minella: A previsão é que a recuperação leve uma década, e isso depende de vários fatores, especialmente da atividade biológica e do tempo. A recuperação está diretamente ligada ao manejo adequado da água, do solo e das plantas. Muitos agricultores precisam sistematizar suas lavouras, gerenciando a água tanto para drenagem quanto para irrigação, especialmente em áreas de cultivo de arroz.

O apoio do poder público e da iniciativa privada é essencial nesse processo. O principal desafio é que a recuperação do solo requer tempo e atividade biológica adequada. Cada caso e cada situação precisam ser diagnosticados individualmente, para que um protocolo específico seja desenvolvido e implementado integralmente.

Portal Agrolink: Como a atividade agrícola nas encostas pode controlar o escoamento superficial e evitar os problemas das enxurradas e enchentes?

Jean Minella: Precisamos avançar na agricultura conservacionista, focando no manejo do escoamento superficial. Isso é especialmente viável todas as  propriedades, onde o manejo do solo favorece a infiltração de água e controla o excesso. Técnicas como terraceamento, rotação de culturas e a proteção de áreas hidrologicamente frágeis com matas ciliares e sistemas agroflorestais integrados ao sistema de produção agrícola são fundamentais. É necessário um pacto entre técnicos, agricultores e a sociedade para implementar essas práticas, visando benefícios tanto para a produtividade agrícola quanto para a sociedade, especialmente em períodos de estiagem e chuvas excessivas.

AGROLINK – Aline Merladete

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Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]

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Meio Ambiente

Projetos estadual e federal podem corrigir injustiças ambientais e impulsionar o agronegócio

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Duas propostas legislativas — uma estadual e outra federal — prometem corrigir falhas históricas na classificação de biomas em Mato Grosso, aliviando os custos para produtores rurais e ampliando a competitividade do agronegócio no estado. A primeira, em tramitação na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), reclassifica áreas dos biomas amazônico e cerrado, enquanto a segunda, na Câmara dos Deputados, visa retirar o estado da Amazônia Legal.

Atualmente, muitos produtores rurais em Mato Grosso precisam preservar até 80% de suas propriedades por estarem localizadas em áreas classificadas como floresta amazônica, mesmo em regiões de cerrado ou transição. Para ajustar essas áreas à realidade, os proprietários são obrigados a gastar altos valores com laudos técnicos para comprovar que suas terras pertencem ao bioma cerrado, onde a reserva legal exigida é de 35%.

A proposta estadual, aprovada em primeira votação, busca corrigir essas distorções ao redefinir os limites entre biomas. Se aprovada, permitirá que áreas erroneamente classificadas como floresta amazônica passem a ser reconhecidas como cerrado, alinhando a legislação ambiental à realidade no campo.

O deputado Carlos Avallone, presidente da Comissão de Meio Ambiente e autor da proposta, defende que a reclassificação é essencial para reduzir custos e ampliar a área disponível para produção agrícola. “Estamos corrigindo equívocos históricos que penalizam produtores que já preservam boa parte de suas terras. Essa mudança é técnica e necessária”, afirmou.

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Produtores argumentam que, em muitas regiões de cerrado, onde é exigida a preservação de 80%, a vegetação é tratada como floresta de forma equivocada. Segundo lideranças do setor, isso encarece a produção e reduz a competitividade do Brasil no mercado global, especialmente diante das exigências internacionais.

Especialistas alertam que a reclassificação poderia abrir caminho para o desmatamento de até 10 milhões de hectares. Porém, produtores destacam que não se trata de “desmatamento indiscriminado”, mas de uma adequação técnica que garante a manutenção da preservação obrigatória de 35% em áreas de cerrado, conforme o Código Florestal.

Além disso, ambientalistas temem impactos na credibilidade do Brasil no mercado internacional, mas deputados como Juarez Costa, autor da proposta federal, ressaltam que o agronegócio brasileiro já adota padrões elevados de sustentabilidade.

No âmbito federal, o projeto de retirar Mato Grosso da Amazônia Legal promete aliviar ainda mais os custos para produtores, que seriam dispensados de preservar 80% de suas propriedades, como ocorre atualmente. Apesar do parecer contrário do deputado Coronel Chrisóstomo na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o texto ainda será debatido em outras instâncias legislativas.

A segunda votação da proposta estadual será crucial para determinar o futuro da legislação ambiental em Mato Grosso. Se aprovada, representará um avanço na segurança jurídica dos produtores e um estímulo ao agronegócio, pilar econômico do estado. O debate revela a necessidade de equilibrar conservação ambiental e crescimento econômico em um dos principais estados produtores do Brasil.

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O agronegócio mato-grossense, responsável por alimentar milhões de pessoas no Brasil e no mundo, reforça que ajustes como esses são indispensáveis para garantir sua sustentabilidade econômica e ambiental.

Fonte: Pensar Agro

Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]

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Meio Ambiente

Florestas restauradas elevam produtividade em até 10 sacas de soja por hectare

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Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) apresentou nesta quinta-feira (21), durante a COP29, em Baku, um estudo inédito que avalia os impactos da restauração florestal para a agricultura e o meio ambiente. De acordo com a pesquisa, a recuperação de 2% a 10% da paisagem local ajuda a prevenir quebras de safra e eleva a produtividade. No caso da soja, o aumento pode chegar a 10 sacas por hectare em áreas restauradas.

A pesquisa faz parte do projeto Galo – sigla em inglês para Avaliação Global a partir de Observações Locais -, que investiga a relação entre a agricultura e a preservação da vegetação natural nos biomas Amazônia e Cerrado.

O estudo analisou dados desde 1985 e constatou que, mesmo em áreas recompostas com floresta secundária, não ocorre a total recuperação de serviços como evapotranspiração – o que significa dizer ser incapaz de manter o ciclo da água.

Segundo Ludmila Rattis, pesquisadora do Ipam e do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, a regulação climática, especialmente da temperatura, também não é totalmente restabelecida.

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No entanto, os pesquisadores destacaram que florestas restauradas têm papel relevante na melhoria da eficiência agrícola, como no caso da soja, demonstrado pelo estudo.

“Mais floresta é mais produtividade. No caso da soja, atinge-se em área restaurada um aumento de aproximadamente 10 sacas, ou 600 quilos, por hectare”, afima Rattis.

Apesar dos benefícios, ela alerta que a restauração não substitui a preservação de florestas primárias. “Primordialmente, precisamos proteger as florestas primárias, que são insubstituíveis”, afirmou.

O estudo foi assinado pelos pesquisadores André Andrade, Bianca Rebelato e Elisângela Rocha, além de Ludmila Rattis.

Luis Roberto Toledo

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Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]

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Meio Ambiente

Altas Doses de Calcário Impulsionam Produtividade da Soja no Matopiba

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Uma pesquisa conduzida pela Embrapa Meio-Norte (PI) aponta que a utilização de altas doses de calcário no cultivo da soja de primeira safra na região do Matopiba – que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – pode aumentar a produtividade em até 30% em comparação às doses recomendadas pelos documentos oficiais. Apesar de causar redução em alguns nutrientes do solo, o impacto é contornável por meio de adubação, assegurando o equilíbrio da fertilidade.

Demanda dos produtores impulsionou a pesquisa

O estudo, iniciado em 2019, surgiu a partir de uma solicitação da Associação dos Produtores de Soja do Estado do Piauí (Aprosoja-Piauí), que observou o uso de doses mais elevadas de calcário em algumas propriedades. O pesquisador Henrique Antunes, da Embrapa, explica que muitos produtores recorrem à prática devido à alta rentabilidade da soja. “Há quem inicie com doses altas de calcário para preparar áreas e já plante soja, que proporciona retorno imediato. Em outros casos, os produtores começam com forrageiras e entram com a soja no segundo ano”, relata.

Porém, a falta de respaldo técnico para esse manejo dificulta o acesso ao crédito bancário, o que motivou a realização de estudos para embasar novas práticas de fertilização. Antunes destaca que a maioria das diretrizes atuais é baseada em pesquisas das décadas de 1980 e 1990, enquanto os sistemas agrícolas atuais utilizam cultivares mais exigentes e manejo intensivo do solo. “Isso reforça a necessidade de revisar os documentos técnicos, especialmente em regiões de fronteira agrícola como o Matopiba”, afirma.

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Resultados das pesquisas

O primeiro experimento, realizado em parceria com a Universidade Federal do Piauí (UFPI), avaliou o impacto de diferentes doses de calcário e gesso sobre a fertilidade do solo e a produtividade da soja no Cerrado piauiense. Foram testadas doses entre zero e 20 toneladas por hectare, utilizando a cultivar BRS 9180. Os resultados demonstraram que doses de 10 a 15 toneladas de calcário por hectare aumentam significativamente a produtividade, neutralizando a toxicidade do alumínio no solo. No entanto, doses superiores a 15 toneladas reduziram as concentrações de fósforo e potássio, prejudicando a produtividade.

O engenheiro-agrônomo Doze Batista de Oliveira, que desenvolveu sua tese de doutorado com base nos dados do projeto, detalha que uma aplicação de 10 toneladas de calcário por hectare elevou a produtividade da soja em 18% e 12% nas safras de 2019/2020 e 2020/2021, respectivamente. “A calagem melhorou a fertilidade do solo, favorecendo o crescimento das plantas. O uso combinado de gesso acelerou a redução da acidez em profundidade, criando um ambiente mais favorável para o desenvolvimento das raízes”, explica.

Impacto e desafios na adoção da prática

O estudo também apontou que, embora doses elevadas de calcário sejam eficazes, é necessário complementar com adubação para evitar deficiências nutricionais no solo. Produtores como Diógenes Brandalize, que cultiva soja e outras culturas em 3 mil hectares no Piauí, já adotaram a prática, registrando um aumento de 20% na produtividade.

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Por outro lado, Luís Fernando Devicari, produtor no Maranhão, mantém o manejo tradicional enquanto aguarda os resultados definitivos. Ele ressalta a importância da análise do solo para orientar o uso do calcário. “Realizamos análises anuais e corrigimos as áreas conforme necessário”, afirma.

O consultor agrônomo Christofer Garanhani, de Paragominas (PA), reforça que os estudos têm ajudado a determinar as doses ideais de calcário para diferentes áreas. Ele destaca, porém, que os custos elevados e as dificuldades de crédito ainda são barreiras para uma adoção mais ampla.

Apesar desses desafios, a prática de aplicação de calcário em altas doses está ganhando adeptos na região, com a expectativa de que os resultados positivos impulsionem uma migração gradual para esse manejo.

Fonte: Portal do Agronegócio

Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]

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