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Meio Ambiente

Ciência usa edição genética para desenvolver arroz resistente à explosão

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Foto: Cláudio Bezerra

 

A edição genética por meio da técnica CRISPR/Cas9 foi usada para dar resistência à brusone à cultivar de arroz BRSMG Curinga em um estudo da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia . Uma vez lançada em 2005, a BRSMG Curinga foi substituída no mercado após se tornar suscetível à doença — que é causada pelo fungo Magnaporthe oryzae — ao longo dos anos. A tecnologia resultante da eliminação de dois genes-alvo relacionados à brusone ainda está em fase de testes, mas tem potencial para chegar ao mercado em alguns anos.

De acordo com a pesquisadora Angela Mehta , uma vez que cultivares como BRSMG Curinga são lançadas no mercado como resistentes ou tolerantes à brusone, elas se tornam suscetíveis em poucos anos devido ao fato de que a variabilidade do fungo é muito alta. Este é um problema tanto para o cultivo de arroz irrigado quanto para o de sequeiro. O estudo comparou um genótipo de arroz suscetível com um genótipo resistente em busca de proteínas que se tornam mais abundantes na planta suscetível após o patógeno infectá-la.

“Identificamos um grupo de proteínas potencialmente envolvidas nessa suscetibilidade e selecionamos os genes correspondentes para knockout pelo CRISPR”, afirma Mehta. O termo “knockout” significa remover a função de um determinado gene, o que, por sua vez, para de produzir a proteína funcional. Para o pesquisador, o estudo também mostra a importância da prospecção de genes de interesse agronômico por meio de técnicas de ômicas (conjunto de ferramentas moleculares que auxiliam na compreensão das diferentes moléculas biológicas que dão funcionalidades a um organismo, como genômica, transcriptômica, proteômica e metabolômica).

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Eles identificaram três genes capazes de tal knockout, dois dos quais foram validados durante o doutorado sanduíche de Fabiano Távora, supervisionado por Mehta e realizado no Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional (C i r a d ).

Suprimir

Ao eliminar esses genes na variedade de arroz Kitaake, que é considerada um modelo, Távora descobriu que a planta se tornou ligeiramente mais resistente à explosão em comparação com a variedade não editada. “Quando ele voltou da França, usamos um desses genes como alvo e selecionamos outros dois para criar uma combinação de alvos para eliminar dois genes de uma vez, em duas construções diferentes na cultivar BRSMG Curinga”, explica Mehta. O estudo resultou em duas linhagens de arroz resistentes à explosão (uma para cada construção) apresentando mutações para os dois genes alvo.

Segundo a pesquisadora, os knockouts de dois genes foram realizados ao mesmo tempo para aumentar a resistência e obter uma melhor resposta. Ela destaca que os resultados até agora foram obtidos em casa de vegetação, onde as linhagens foram desafiadas com um isolado do fungo. “O próximo passo é desafiá-las com outros isolados para ver se essa resistência será mantida”, completa.

Mehta também destaca que a BRSMG Curinga foi escolhida por ser um genótipo transformável e por apresentar características agronômicas mais próximas do interesse do produtor quando comparada a cultivares modelo, como Nipponbare e Kitaake. “Essas variedades não têm o nível de melhoramento para terras altas da Curinga, que foi adaptada às condições do Cerrado brasileiro”, ressalta.

Para o pesquisador, os resultados da pesquisa oferecem uma importante fonte de resistência genética à brusone, diferente do que temos hoje, a ser incorporada em linhagens elite, variedades e até mesmo em linhagens de populações para seleção recorrente no programa de melhoramento de arroz da Embrapa.

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O estudo foi realizado em parceria com os pesquisadores  Raquel Mello  e  Adriano Castro , da  Embrapa Arroz e Feijão , em projeto liderado por Angela Mehta, financiado pela Embrapa com apoio de projeto Embrapa-Monsanto liderado pela pesquisadora  Márcia Chaves , da  Embrapa Clima Temperado .

Explosão

A brusone, causada pelo fungo  Magnaporthe oryzae , é considerada a doença mais destrutiva do arroz e ocorre em todo o Brasil. Como as perdas são variáveis, elas são maiores em arrozais de sequeiro no Centro-Oeste do Brasil, podendo comprometer até 100% da produtividade em anos de ataques epidêmicos. Ela também ataca diversas gramíneas comuns em arrozais e trigos.

As principais fontes de contaminação primária são sementes infectadas e restos de culturas. A infecção secundária se origina de lesões de esporulação em folhas infectadas. Todos os estágios do ciclo da doença são altamente influenciados por fatores climáticos. Em geral, requer altas temperaturas (de 25 °C a 28 °C) e umidade acima de 90%.

Os sintomas nas folhas começam com a formação de pequenas lesões necróticas marrons, que aumentam de tamanho e se tornam elípticas, com margens marrons e um centro cinza ou esbranquiçado. Em condições favoráveis, as lesões causam a morte das folhas e, frequentemente, de toda a planta.

Os sintomas característicos nos nós da planta são lesões marrons que podem afetar as regiões do caule que estão próximas aos nós atacados. Uma infecção do nó na base da panícula (inflorescência da planta de arroz) é conhecida como explosão do colar, pois uma lesão marrom circunda a região nodal e causa estrangulamento da planta.

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A planta pode apresentar nanismo (anomalia que ocorre quando os grãos não se desenvolvem corretamente). As panículas ficam esbranquiçadas e são facilmente identificadas no campo. Muitas partes da panícula, como raque, ramos primários e secundários e pedicelos, também são infectadas.

Controlar

Atualmente, os danos causados ​​pela brusone podem ser reduzidos integrando o uso de cultivares resistentes, práticas culturais e fungicidas ao manejo da cultura com preparo adequado do solo; fertilização balanceada, evitando crescimento vegetativo excessivo das plantas; utilização de sementes de boa qualidade fitossanitária e fisiológica; semeadura em período mínimo de tempo e no sentido oposto ao da direção predominante do vento; incorporação de restos culturais; profundidade de semeadura uniforme; densidade de semeadura recomendada para a cultivar ou sistema de produção.

Outras práticas importantes incluem o controle de plantas daninhas; destruição de plantas voluntárias e doentes; boa nivelação do solo; manutenção do nível adequado da água de irrigação durante o ciclo da planta; dimensionamento adequado dos sistemas de irrigação e drenagem; troca de escolha de cultivares a cada 3 ou 4 anos; semeadura no início da estação chuvosa; uso de fungicidas aplicados no tratamento de sementes e pulverização das partes aéreas das plantas.

A proteção contra a brusone das panículas é feita preventivamente por meio de pulverizações com fungicidas sistêmicos: uma aplicação deve ser feita ao final do período de emborrachamento e a outra quando houver até 5% de emissão de panículas.

Fonte: Assessoria

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Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]

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Meio Ambiente

Embrapa Milho e Sorgo recebe certificação de Qualidade em Ensaio Interlaboratorial de análises de Carbono

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Reprodução

 

O Laboratório Central Analítica da Embrapa Milho e Sorgo vem participando, desde 2023, do Ensaio de Proficiência em Carbono do Solo, promovido pela Embrapa Meio Ambiente e coordenado pela supervisora do Laboratório de Biogeoquímica Ambiental Juliana Marcatto.

O Ensaio de Proficiência em Carbono do Solo (EPCS) é um programa interlaboratorial pioneiro no Brasil e tem como finalidade harmonizar os resultados obtidos para análise de carbono (C) do solo entre os laboratórios participantes. O programa estabelece também uma rede colaborativa entre laboratórios para carbono no solo no Brasil. A rede busca subsidiar ações e iniciativas no mercado de carbono em estruturação no País. Nas primeiras rodadas, o EPCS teve como foco a avaliação da determinação do teor do C no solo.

Segundo a comissão do programa, o primeiro ano de ensaio de proficiência de laboratórios para determinação do teor total de carbono no solo evidenciou proficiência de 82% dos participantes com analisador elementar e excelente precisão nessas análises. Os avaliadores também constataram a necessidade de melhor entendimento acerca das características das amostras para a avaliação de outras técnicas analíticas para carbono e do analisador elementar por combustão seca.

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O supervisor do Setor de Gestão de Laboratórios da Embrapa Milho e Sorgo, Paulo Eduardo Ribeiro, destacou o ótimo desempenho da Embrapa Milho e Sorgo no programa. “Logo nas quatro amostras analisadas no primeiro ano, em três tivemos a classificação ‘Excelente’ e em uma ‘Bom’, o que nos levou a uma eficiência de 95% e um índice de imprecisão de apenas 1%. Em 2024, mantivemos esse desempenho, o que nos dá confiabilidade dos resultados que estamos entregando”.

“Considerando a importância que as linhas de pesquisas de Agricultura de Baixo Carbono e de Mudanças Climáticas estão adquirindo, acreditamos que essa análise continuará sendo estratégica para a empresa”, diz Ribeiro. As análises são feitas apenas para atender o público interno da Embrapa, relacionadas aos projetos de pesquisa.

Análise de carbono em solos por combustão seca

Foto: Manoel Ricardo Albuquerque Filho

Situada em Sete Lagoas, MG, a Embrapa Milho e Sorgo é uma das Unidades da Embrapa e vem realizando a análise de carbono em solos por combustão seca há mais de 16 anos, quando fez a transição da metodologia Walkley Black (via úmida) para a atual, com a participação dos técnicos de laboratório Flávio Antônio de Souza e Hosana Maria Andrade.

Atualmente, alguns projetos de pesquisa da Unidade demandam análises de carbono em solos. Dois exemplos são “Proposta de critérios de identificação de descontinuidade litológica para o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS)” e “Amostragens de solo para determinação dos estoques de carbono e nitrogênio no sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)”. (Foto à direita, Manoel Ricardo de Albuquerque Filho)

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Conforme relato do pesquisador João Herbert Viana, a determinação do carbono total é fundamental para os projetos que avaliam e quantificam os estoques de carbono no solo, e que medem os efeitos das práticas de manejo no armazenamento de carbono no solo e na sua dinâmica temporal. Segundo ele, a qualidade da análise é um elemento essencial para garantir a confiabilidade dos resultados e sua reprodutibilidade.

A pesquisadora Flávia Cristina dos Santos também demonstra a aplicabilidade desses estudos.  “As análises de carbono e, consequentemente, os estudos relacionados a esse tema são de grande importância para que possamos ter as medidas reais de contribuição do sequestro de carbono em solos arenosos, de acordo com as melhores práticas de manejo que estamos executando, como os protocolos Carne Baixo Carbono (CBC) e Carne Carbono Neutro (CCN). No geral, temos visto que a intensificação sustentável nesses solos, com emprego de sistemas integrados e manejo dos componentes solo, planta, animal e ambiência, tem levado ao maior sequestro de carbono em comparação com sistemas tradicionais de pecuária e até mesmo com áreas de Cerrado”, relata Santos. Um dos projetos de pesquisa que envolveu esses estudos foi o “Intensificação agrícola visando à sustentabilidade do uso de solos arenosos – Projeto Trijunção”.

Outros dois projetos, citados pelo pesquisador Miguel Gontijo Neto, vêm se beneficiando dessa análise: “Conversão de pastagem degradada em ambientes de produção intensiva (ILPF) na região Central de Minas Gerais – Fase II” e “Estratégias de manejo integrado de práticas agronômicas visando a ampliação e a sustentabilidade de sistemas de produção de grãos, em áreas reconvertidas de pastagens, na região centro-noroeste de Minas Gerais”.

 

 

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Sandra Maria Brito (MTb 06230/MG)
Embrapa Milho e Sorgo

Colaborou:  Astrogildo Nunes – [email protected]

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Meio Ambiente

Projetos estadual e federal podem corrigir injustiças ambientais e impulsionar o agronegócio

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Duas propostas legislativas — uma estadual e outra federal — prometem corrigir falhas históricas na classificação de biomas em Mato Grosso, aliviando os custos para produtores rurais e ampliando a competitividade do agronegócio no estado. A primeira, em tramitação na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), reclassifica áreas dos biomas amazônico e cerrado, enquanto a segunda, na Câmara dos Deputados, visa retirar o estado da Amazônia Legal.

Atualmente, muitos produtores rurais em Mato Grosso precisam preservar até 80% de suas propriedades por estarem localizadas em áreas classificadas como floresta amazônica, mesmo em regiões de cerrado ou transição. Para ajustar essas áreas à realidade, os proprietários são obrigados a gastar altos valores com laudos técnicos para comprovar que suas terras pertencem ao bioma cerrado, onde a reserva legal exigida é de 35%.

A proposta estadual, aprovada em primeira votação, busca corrigir essas distorções ao redefinir os limites entre biomas. Se aprovada, permitirá que áreas erroneamente classificadas como floresta amazônica passem a ser reconhecidas como cerrado, alinhando a legislação ambiental à realidade no campo.

O deputado Carlos Avallone, presidente da Comissão de Meio Ambiente e autor da proposta, defende que a reclassificação é essencial para reduzir custos e ampliar a área disponível para produção agrícola. “Estamos corrigindo equívocos históricos que penalizam produtores que já preservam boa parte de suas terras. Essa mudança é técnica e necessária”, afirmou.

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Produtores argumentam que, em muitas regiões de cerrado, onde é exigida a preservação de 80%, a vegetação é tratada como floresta de forma equivocada. Segundo lideranças do setor, isso encarece a produção e reduz a competitividade do Brasil no mercado global, especialmente diante das exigências internacionais.

Especialistas alertam que a reclassificação poderia abrir caminho para o desmatamento de até 10 milhões de hectares. Porém, produtores destacam que não se trata de “desmatamento indiscriminado”, mas de uma adequação técnica que garante a manutenção da preservação obrigatória de 35% em áreas de cerrado, conforme o Código Florestal.

Além disso, ambientalistas temem impactos na credibilidade do Brasil no mercado internacional, mas deputados como Juarez Costa, autor da proposta federal, ressaltam que o agronegócio brasileiro já adota padrões elevados de sustentabilidade.

No âmbito federal, o projeto de retirar Mato Grosso da Amazônia Legal promete aliviar ainda mais os custos para produtores, que seriam dispensados de preservar 80% de suas propriedades, como ocorre atualmente. Apesar do parecer contrário do deputado Coronel Chrisóstomo na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o texto ainda será debatido em outras instâncias legislativas.

A segunda votação da proposta estadual será crucial para determinar o futuro da legislação ambiental em Mato Grosso. Se aprovada, representará um avanço na segurança jurídica dos produtores e um estímulo ao agronegócio, pilar econômico do estado. O debate revela a necessidade de equilibrar conservação ambiental e crescimento econômico em um dos principais estados produtores do Brasil.

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O agronegócio mato-grossense, responsável por alimentar milhões de pessoas no Brasil e no mundo, reforça que ajustes como esses são indispensáveis para garantir sua sustentabilidade econômica e ambiental.

Fonte: Pensar Agro

Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]

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Meio Ambiente

Florestas restauradas elevam produtividade em até 10 sacas de soja por hectare

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Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) apresentou nesta quinta-feira (21), durante a COP29, em Baku, um estudo inédito que avalia os impactos da restauração florestal para a agricultura e o meio ambiente. De acordo com a pesquisa, a recuperação de 2% a 10% da paisagem local ajuda a prevenir quebras de safra e eleva a produtividade. No caso da soja, o aumento pode chegar a 10 sacas por hectare em áreas restauradas.

A pesquisa faz parte do projeto Galo – sigla em inglês para Avaliação Global a partir de Observações Locais -, que investiga a relação entre a agricultura e a preservação da vegetação natural nos biomas Amazônia e Cerrado.

O estudo analisou dados desde 1985 e constatou que, mesmo em áreas recompostas com floresta secundária, não ocorre a total recuperação de serviços como evapotranspiração – o que significa dizer ser incapaz de manter o ciclo da água.

Segundo Ludmila Rattis, pesquisadora do Ipam e do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, a regulação climática, especialmente da temperatura, também não é totalmente restabelecida.

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No entanto, os pesquisadores destacaram que florestas restauradas têm papel relevante na melhoria da eficiência agrícola, como no caso da soja, demonstrado pelo estudo.

“Mais floresta é mais produtividade. No caso da soja, atinge-se em área restaurada um aumento de aproximadamente 10 sacas, ou 600 quilos, por hectare”, afima Rattis.

Apesar dos benefícios, ela alerta que a restauração não substitui a preservação de florestas primárias. “Primordialmente, precisamos proteger as florestas primárias, que são insubstituíveis”, afirmou.

O estudo foi assinado pelos pesquisadores André Andrade, Bianca Rebelato e Elisângela Rocha, além de Ludmila Rattis.

Luis Roberto Toledo

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Colaborou: Astrogildo Nunes – [email protected]

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